quinta-feira, 17 de julho de 2014

Reflets dans l'eau

Nosso mundo tem imagens; nós temos imagens; fazemos imagens, recriamos imagens, somos imagens imagens são nós fotos pinturas vídeos televisão não estamos lá não estamos aqui.

Mas elas estão aqui.

E onde estamos? Apenas nas imagens.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Paradoxo da completude do ser humano (primeira reflexão)



Em rápidas palavras, o ser humano tem um vazio e é completo em si mesmo. Dentro de duas abordagens que se distinguem muito, a psicanálise (um pouco de Freud e Lacan) e o budismo (um pouco do zen budismo de Thich Nhat Hanh), refleti sobre esse aspecto humano.



O vazio que sentimos é decorrência de uma falta, falta de afeto, de atenção, de uma concretização do prazer buscado para satisfazer nosso centro libidinoso. Ele não vem só de questões sentimentais ligadas a pessoas, mas também de atividades que exercemos, como no trabalho. Se não conseguimos finalizar uma atividade, nos frustramos. Esse vazio não é exatamente um vazio existencial, e pode estar ligado à busca de identidade na medida em que o afeto é direcionado ao Outro, e é esse Outro que compõe o Eu. A identidade é um reflexo de outras identidades.

Ao mesmo tempo, somos completos, se olharmos para nós conscientemente e não buscarmos explicações e respostas fora de nós, percebemos que o eu está completo. Somos atravessados por fatores externos, porém nossos fatores internos já obtém essencialmente o poder para nos acalentar. Nosso organismo não vive em função de nossa degradação, pelo contrário, tenta sempre sobreviver. A autopoiese é fator real para a continuidade de nossa existência física. Se sentimos que temos conexão com os objetos e que temos um poder interno que pode nos trazer paz, percebemos nossa completude.

Daí dizer que o vazio é passageiro, é criado, e pode ser recriado e modificado com movimentos de olhares endógenos numa perspectiva expansionista. O Eu se expande nos limites de nossa existência material com a conexão com o mundo. Nas conexões estabelecemos o fluxo de energia que doamos e recebemos, provocando devires que justifiquem nosso Vazio.

A questão não é olhar mais para aquilo que é negativo, aquilo que falta, mas observar que é o que temos de positivo que nos completa.

Uma falta que sentimos é de alguém. Independente da relação, qualquer apego forte numa situação de "amor" em que o Outro se torna objeto de identificação e de apropriação, configura-se dependência, não é amor. O amor de verdade é irmão da autonomia, um entende o outro e por isso a pessoa na verdade está sozinha e acompanhada. É um aparente paradoxo. O amor é uma dança de autonomias. Relacionam-se, mas não se apoderam um do outro. Relações de poder não possuem amor se houver dominação.

Essa criação do Vazio não é consciente e provavelmente não pode ser desmanchada conscientemente. O entendimento das razões do Vazio e as experiências cotidianas da consciência plena sobre si podem ser caminhos para visar a completude do ser. O que você sente? No corpo, no coração... e quais são os pensamentos na sua cabeça? O que fizeram com você ou te falaram? Essas são boas questões para começar a refletir conscientemente sobre seus Eu's momentâneos.

sábado, 29 de março de 2014

24 Horas de Felicidade



Isso parece possível para você?

Eu responderia que não.

Pharrel Williams traz essa proposta com sua música Happy, e ousou muito ao criar o primeiro clipe de 24 horas de duração, em que várias pessoas dançam e se divertem ao som da música, que toca infinitamente e cada pessoa tem seu jeito de expressá-la. Vai sentindo cada momento da música, e dá para perceber que muitos movimentos são repetidos, às vezes eles ousam em seus movimentos.

Quando comecei a assistir continuamente o clipe de 24 horas, me levaram para 11:36 e topei com três idosas muito simpáticas que dançaram juntas por uma caminhada de quatro minutos e se divertiram bastante, queriam mostrar novos movimentos, desciam até o chão e gesticulavam o que conseguiam!

A música traz em sua letra uma sequência que transmite a questão da liberdade de expressão, o desejo de se expressar, as pulsões para serem liberadas. Há um alerta sobre essa possível loucura, mas que é normal, não é algo de outro mundo, é apenas algo imenso que existe e que vai além de compreensões simplistas e longe do movimento de alteridade. E não há ofensa a esse outro que não compreende, é só porque há realmente essa felicidade de alguém que sabe que quer emiti-la

Para alguém que gosta de dançar e às vezes tem vontade de fazê-lo na rua, isso é muito interessante, pois o espaço físico está ali, mas o simbólico não. Parece que as ruas são feitas apenas para andar, esperar, não para observar, ter lazer, se divertir, dançar, brincar. As calçadas tentam ser funcionais [o problema está no fato também de termos calçadas estragadas, estraçalhadas, desniveladas].

Essa dimensão material da rua é o primeiro ponto a ser observado tanto por reflexões quanto pelo olhar da Administração Pública. Se não conseguimos nem usá-la de forma funcional para atendermos à demanda de trabalho e estudos, nosso dia a dia se torna mais complicado por pequenas coisas que trazem desconforto e podem impedir certas realizações pessoais. Especialmente deficientes e idosos têm dificuldade de locomoção em nossas calçadas, em nossas ruas. As faixas, os semáforos, as rampas que faltam, são estruturas simples que faltam aos que se locomovem.

Simbolicamente percebemos olhares e estranhamentos com as ações que saem do comum. Não é ANORMAL, é incomum. Anormal é se reprimir porque há uma repressão social, e é essa a maior castração desnecessária. O olhar estranho para aquele que dança na rua é o reflexo da vontade social de repressão aos corpos. A expressão do corpo é forma genuína de liberação de desejos. Dançar é um movimento pessoal, não excede essa esfera.

A cidade se mostra hostil frente às subjetividades das pessoas. E essas subjetividades devem ser respeitadas. Não passamos por um processo de alteridade frente aos corpos dos outros, em que se respeita essa liberdade de expressão individual. O clipe de Pharrel Williams é um dos maiores manifestos visuais sobre essa liberdade, em que se usa a cidade na maior parte do clipe como cenário para concretização desse desejo de expressão. Essa liberdade está garantida constitucionalmente. Há uma norma que a permite. Mas as normas de repressão simbólicas, olhares, gestos, falas, ainda se encontram num sentido de repúdio.

A cidade é espaço de liberdade de expressão artística.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Antítese I



A primeira antítese que aponto é a de luz e escuridão. Só conseguimos saber que um existe, pela diferença do outro [Outro]. Quando estamos andando na rua, nossa sombra é projetada para algum lado, sabemos que ali haveria menos luz incidindo porque nosso corpo foi barreira, contudo, o resto ainda seria luz (seria mais fácil pensar numa sala com uma luz, próprios para esse teste visual).

O resto é apenas luz.

Luz.

Todos queremos luz. Se quisermos apenas ela, que busquemo-la; afinal, se a luz ficar em cima da gente, a sombra é mínima, mal podemos vê-la.

Mas nossa cabeça esquenta e o cérebro evapora.

Depois de diálogos de hoje

Não dê tiros, dê carinho.