terça-feira, 13 de maio de 2014

Paradoxo da completude do ser humano (primeira reflexão)



Em rápidas palavras, o ser humano tem um vazio e é completo em si mesmo. Dentro de duas abordagens que se distinguem muito, a psicanálise (um pouco de Freud e Lacan) e o budismo (um pouco do zen budismo de Thich Nhat Hanh), refleti sobre esse aspecto humano.



O vazio que sentimos é decorrência de uma falta, falta de afeto, de atenção, de uma concretização do prazer buscado para satisfazer nosso centro libidinoso. Ele não vem só de questões sentimentais ligadas a pessoas, mas também de atividades que exercemos, como no trabalho. Se não conseguimos finalizar uma atividade, nos frustramos. Esse vazio não é exatamente um vazio existencial, e pode estar ligado à busca de identidade na medida em que o afeto é direcionado ao Outro, e é esse Outro que compõe o Eu. A identidade é um reflexo de outras identidades.

Ao mesmo tempo, somos completos, se olharmos para nós conscientemente e não buscarmos explicações e respostas fora de nós, percebemos que o eu está completo. Somos atravessados por fatores externos, porém nossos fatores internos já obtém essencialmente o poder para nos acalentar. Nosso organismo não vive em função de nossa degradação, pelo contrário, tenta sempre sobreviver. A autopoiese é fator real para a continuidade de nossa existência física. Se sentimos que temos conexão com os objetos e que temos um poder interno que pode nos trazer paz, percebemos nossa completude.

Daí dizer que o vazio é passageiro, é criado, e pode ser recriado e modificado com movimentos de olhares endógenos numa perspectiva expansionista. O Eu se expande nos limites de nossa existência material com a conexão com o mundo. Nas conexões estabelecemos o fluxo de energia que doamos e recebemos, provocando devires que justifiquem nosso Vazio.

A questão não é olhar mais para aquilo que é negativo, aquilo que falta, mas observar que é o que temos de positivo que nos completa.

Uma falta que sentimos é de alguém. Independente da relação, qualquer apego forte numa situação de "amor" em que o Outro se torna objeto de identificação e de apropriação, configura-se dependência, não é amor. O amor de verdade é irmão da autonomia, um entende o outro e por isso a pessoa na verdade está sozinha e acompanhada. É um aparente paradoxo. O amor é uma dança de autonomias. Relacionam-se, mas não se apoderam um do outro. Relações de poder não possuem amor se houver dominação.

Essa criação do Vazio não é consciente e provavelmente não pode ser desmanchada conscientemente. O entendimento das razões do Vazio e as experiências cotidianas da consciência plena sobre si podem ser caminhos para visar a completude do ser. O que você sente? No corpo, no coração... e quais são os pensamentos na sua cabeça? O que fizeram com você ou te falaram? Essas são boas questões para começar a refletir conscientemente sobre seus Eu's momentâneos.

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